terça-feira, 20 de agosto de 2013

Paredes Blindadas Capitulos 9 e 10


By Fatima Dannemann

 Capitulo 9

no elevador

- cocororó cóoooooooooooooooo
 - de novo, o galo - bom diaaaaaaaaaa
 - como você sabe que é dia?
 - olha a claridade! Amanheceu
 - que claridade?
 - o elevador é panorâmico, rebanho de antas. Está de dia.
 - nada como a sabedoria da idade, Dona Jaciara
 - que sabedoria nada, eu só olhei através da parede
 - mas e o galo?
 - ah, é o Agenor... veja, o Agenor está aqui tambem gente
 - que mané é o Agenor
 - meu galinho de estimação. presente da Patroa
 - po, nem pra ser uma galinha.
 - bom, pelo menos nos acordou. Graças ao Agenor, sabemos que está de dia.

 mais tarde 

 - bem, a essa altura ninguem mais vai para a Ilha. Olha aqui, bolacha e suco. só não tem copo.
 - ah, eu arranjo copo, olha aqui esses envelopes, dá para colocar o suco
 - é mais cuidado, tem um que tá com o cocô da Teodolina
 - bom, fome ninguem passa. mas vão se preparando para a prisão de ventre. não quero cheirar mais nem uma bufa aqui dentro. mais tarde ainda...
 - po, que horas são? - deixa ver 9h06... tá aqui no celular
 - puxa, você tem celular e não faz nada? não liga para ninguem nos tirar daqui?
 - se eu ligar, meu marido descobre que eu estou pulando a cerca, ora.
 - mas a essa altura ele sabe que você pula a cerca, lindinha
 - sabe o que me doi?
 - o que?
- ninguem, absolutamente ninguem, veio nos procurar. E veja bem, são 9h da manhã. Estamos presos há umas 14 horas. Ninguem neeeeem tchum
 - bom, meu marido é portugues... demora a entender as coisas
 - buaaaaaaaaaa, buaaaaaaaaa - chorando, Joel?
 - de saudades da patroaaaaa...

 na casa de Joel, mesma hora

 - Reginaldoooooooooooooo, ô Reginaldoooooooooooooo
 - fala Donidil...
 - Joel ligou?
 - ligou não. fiquei na venda ontem até tarde tomando uma e jogando pauzinho, ele nem ligou, nem apareceu por lá.
 - onde anda esse ordinário?
 - sei lá... sexta-feira, né?
 - e o ordinário aproveita que trabalha lá na cidade e fica lá mesmo na casa das primas
 - ele tem parente no centro?
 - que parente o que, Reginaldo, falo das quengas lá da casa de tolerancia ora bola...
 - ichi... bom, se a senhora quiser conferir posso ir lá com a senhora Donidil...
 - pois vamos sim. ele folga no fim de semana. não tem porque não voltar pra casa

 no elevador, um pouco mais tarde 

- Aidil deve estar uma jararaca comigo
 - imagine se ela soubesse o que você e o Nivaldo andaram fazendo
 - foi brincadeira de bater figurinha, nada demais...
 - ainda bem que você pensa assim, querido. Eu estou comprometido até os dentes com Abinovaldo... na mesma hora, na rua, um transeunte para. dali a minutos outro transeunte para. cinco transeuntes parados depois alguem resolve perguntar o que esta acontecendo...
 - é uma índia com colar?
 - dançam as ilhas sobre o mar?
 - sua cartilha tem um ar de que cor?
 - o que está acontecendo?
 - o mundo está ao contrário e ninguem reparou?
 - que está acontecendo?
 - atrás do filho vem um pai e um avô?
 - o que você está fazendo?
 - milhões de vasos sem nenhuma flor? (*)
 - não, uma movimentação esquisita ali no elevador
 - vixe. não tem ninguem no prédio.
 - bem que falam que esse edificio é assombrado
 - é... que a anta do Ceará assombra ai quando não tem ninguem...
 - mesmo?

 no elevador... 

- falam que o prédio é assombrado sim. por isso que eu crio o Agenor...
 - bem que noite eu ouvi umas coisas
 - que coisas?

 que coisas? vejam depois (*) a conversa dos transeuntes, é uma brincadeira com a letra da musica Relicário. Minha intenção aqui é a de homenagear os Titãs e em especial, Nando Reis (nota da autora)

  Capitulo 10

 Periferia, no ponto de ônibus, 10h do sábado

 - po, ninguem merece, ônibus dia de sábado é uma droga
 - pior é domingo, Dona Aidil. Para ir pro futebol eu peno. As vezes vou de véspera e durmo lá.
 - no estádio?
 - não, na fila
 - mas você vai ver futebol ou vai ao SUS?

 mesma hora, no elevador

 - que coisa você ouviu?
 - bom, vovó vai me bater porque eu tou falando ousadia...
 - falo fora do elevador, menina...
 - foi fora do elevador...
 - então tem gente no prédio
 - não tem, é o fantasma da Anta do Ceará
 - anta?
 - sim, anta, uma das muitas historias aqui do prédio. Tinha um cara que criava uma anta no sexto andar. Ai um belo dia veio a fiscalização do meio ambiente e crau...
 - levou a anta?
 - não? crau no cara...
 - era anta ou viado?
 - quem? o cara ou a anta?
 - ah, eu quero saber o que aconteceu?
 - bom o cara foi preso, claro, mas a anta fugiu. dizem que até hoje ela está escondida em algum lugar aqui do prédio e ninguem acha...
 - arthuuuuuuurrrrrr...
 - qué qui foi?
 - lembra daquele dia que faltou luz quando a gente foi furunfar na escada?
 - qué qui tem?

 uns tempos atrás... na escada

 - ponho os meus olhos em você...
 - dona dos meus olhos é você...
 - liga o radio a pilha a TV só para você escutar...
 - que mané rádio, nós estamos na escada. suas maluquices de querer fingir que tá me dando numa das galerias da mina...
 - ah. poxa... seu celular não pega rádio não? tou com uma vontade de ouvir uma musiquinha...
 - meu celular é pré-historico. de proposito pra Liomara não colocar a foto dela na página inicial... blong, blong
 - ih, faltou luz... me segura, Tuzinho
 - po, na hora que é pras suas conveniencias eu viro Tuzinho. quando não é, é anta, jumento, etc...
 - mas porque você merece
 - eu???
 - claro sim... faça um exame apurado... e que mão é essa, arthur? ce precisa passar uns cremes, tá parecendo estivador, hora...
 - como você sabe? no elevador, atualmente
 - vixe... pode ter sido a anta que fez ousadia comigo...
 - ahahaahahahaha - tá rindo de que Mariana. Você é supersecretaria. Liga pros bombeiros.
 - meu celular é do escritorio, é bloqueado nos finais de semana
 - e meu marido vai descobrir que eu estou traindo ele
 - vovóoooooooo, olhaaaaaaa, viramos atração turistica, olha o povo lá embaixo...

 a essa altura tinha a maior multidão lá embaixo. E chegando com uma sacolinha de merendas e um rolo de macarrão, Aidil e Reginaldo

 - não entendi... merenda e porrete 
 - se tiver quieto, trabalhando, ganha merenda se pular cerca, leva pau...

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